Em boa hora me fiz convidado para visitar a Escola da Ponte, em conjunto com a turma do 5º C e mais três colegas. Em boa hora porquê? Porque a escola da Ponte concretiza, de certa forma, a «utopia da Educação»; é uma escola de partilha no universo formatado de ensino em que vivemos.
A turma do 5ºC liderada pelos colegas Daniel e Olga, eu e a colega Paula Alexandrina saímos dia 12 de Março em direcção à Vila das Aves (a alguns quilómetros de Guimarães) para visitar a Escola da Ponte. Desta escola eu já tinha algumas referências, mas, mesmo assim, in loco, é impossível não se ser surpreendido e tocado pelo clima de partilha e de respeito que transpira dentro do velho, mas sempre limpo, edifício da escola.
Chegados ao destino, após uma viagem de uma hora e pouco, fomos recebidos pelo coordenador das visitas à escola e por 8 alunos com idades compreendidas entre os 8 e os 10 anos, os guias da visita. Sim, os nossos guias foram esses mesmos alunos. Acompanharam-nos (4 grupos previamente formados) e, competentemente, guiaram-nos por aquela singular escola. Só mais tarde vi o professor coordenador.
A visita iniciou-se percorrendo todas as salas de trabalho e espaços da escola, onde imperava o silêncio, a música, o trabalho, a entreajuda, a partilha, a educação, a autónoma aquisição de saberes e a responsabilização por uma educação global.
Passamos a pente fino os placares repletos de grelhas com o currículo por ciclo, grelhas de saberes adquiridos, necessidade de apoios, registos sobre o que os alunos achavam mal e achavam bem na sua escola, trabalhos realizados, poemas, e outros registos partilhados com todos.
Após o almoço realizado em Guimarães regressámos para a Assembleia de Escola, o ponto alto da semana na Escola da Ponte. Estas assembleias realizam-se no cineteatro próximo da escola com todos os alunos, professores, pais e convidados. É presidida por uma mesa onde não entram adultos, começando os trabalhos pela leitura e aprovação da acta da reunião anterior.
Na sessão a que assistimos, prosseguiu-se votando um conjunto de direitos e deveres, já do conhecimento de todos, que irá reger o funcionamento da escola nos próximos 2 anos. De salientar que a votação é feita por dedo no ar e em silêncio, estando aberta a intervenções dos alunos sempre que o solicitarem… por dedo no ar.
Na mesma assembleia foram apresentados alguns trabalhos de alunos na rubrica “Um Pouco de Mim”. É de apresentação livre e nas mais diversas áreas. Foi apresentado um trabalho de expressão plástica de um aluno de primeiro ano; outro, sobre descriminação social e pobreza por um grupo de alunos do sétimo ano e, por final, um trabalho de vídeo sobre o «Projecto Pontes», por parte de uma aluna de nono ano.
Houve, ainda, lugar a apresentação de um texto de despedida a um aluno de nono ano, por parte dos seus colegas. Para finalizar cantou-se os parabéns a um aluno que completava aniversário nesse dia. Tudo isto… numa Assembleia de Escola, dirigida por alunos, participada por alunos, que transpirava respeito mútuo, democracia, autonomia e onde são tomadas decisões para a escola dos alunos. Enfim, a escola que gostaria «ser nossa».
A Utopia da Educação e da Escola da Partilha, no universo formatado do ensino em que vivemos
A Escola não é uma mera soma de parceiros hierarquicamente justapostos, recursos quase sempre precários e actividades ritualizadas. É, antes, uma formação social em interacção com o meio envolvente e as formações sociais, onde permanentemente convergem processos de mudança desejada e reflectida. Esta é a Escola da Ponte.
Aos pais reverte o direito indeclinável de escolha do projecto educativo que considerem mais apropriado à formação dos seus filhos e, simultaneamente, à Escola da Ponte arroga-se o direito de propor à sociedade e aos pais interessados o projecto educativo que julgue mais adequado à formação integral dos seus alunos. Projecto, esse, referencial de pensamento e acção de uma comunidade que se revê em determinados princípios e objectivos educacionais, baliza e orienta a intervenção de todos os agentes e parceiros na vida da Escola e ilumina o posicionamento desta face à administração educativa.
Uma equipa coesa e solidária e uma intencionalidade educativa, claramente reconhecida e assumida por todos (alunos, pais, profissionais de educação e demais agentes educativos), são os principais ingredientes desse projecto capaz de sustentar uma acção educativa coerente e eficaz.
A intencionalidade educativa que serve de referencial ao projecto «Fazer a Ponte» orienta-se no sentido da formação de pessoas e cidadãos cada vez mais cultos, autónomos, socialmente responsáveis, solidários e democraticamente comprometidos na construção de um destino colectivo e de um projecto de sociedade, capazes de potenciar a afirmação das mais nobres e elevadas qualidades de cada ser humano.
Como cada ser humano é único e irrepetível, a experiência de escolarização e o trajecto de desenvolvimento de cada aluno são também únicos e irrepetíveis. A singularidade do seu trajecto educativo supõe a apropriação individual (subjectiva) do currículo, tutelada e avaliada pelos orientadores educativos. A estes, compete valorizar a construção da sua identidade pessoal, assente nos valores de iniciativa, criatividade e responsabilidade. E, as necessidades individuais e específicas de cada um deverão ser atendidas singularmente, já que as características singulares de cada aluno implicam formas próprias de apreensão da realidade. Neste sentido, todo o aluno tem necessidades educativas especiais, manifestando-se em formas de aprendizagem sociais e cognitivas diversas.
Foi este contexto e esta teoria da «escola ideal» que me motivaram para a visita à Instituição e de perto poder respirar um pouco este ambiente de educação singular. A visita foi, sem dúvida, um excelente momento de construção pessoal e profissional.
Miguel Pinheiro
(algumas fotos da viagem)