Uma carta aos alunos
Desperdício de Cotas.
Preparar para a vida é, supostamente, aquilo que todos nós enquanto professores ou pais fazemos ou tentamos fazer com os nosso filhos e convosco, nas aulas e fora delas, na nossa vida profissional, pessoal e social. Pretendemos, através dos nossos conhecimentos, competências e da nossa experiência de vida, conferir a vocês, nossos alunos, e aos nossos filhos, um determinando número de saberes e competências que vos permitam encarar o «mundo lá fora» de uma forma menos romântica e lírica que aquela que vos é transmitida (na maior parte das vezes) pela natural imaturidade que vos vai colorindo a existência. O objectivo é fazer-vos ver que estão a construir um percurso de vida e que a sociedade vos atribuirá, em breve, um papel e que espera que o desempenhem bem. Trata-se, afinal, de vos preparar para “pegar o touro – a vida - pelos cornos” antes que ele (ela) vos trucide, vos enjeite e vos segregue.
Costumo realçar o grande benefício que será sempre para vocês o terem alguém – um «cota» - em algum momento da vida, capaz de vos mostrar, com uma pequena margem de erro, aquilo que irá acontecer no futuro, alguém capaz de vos indicar opções, apontar caminhos, falar de liberdade mas também de responsabilidade e de vos alertar para as consequências dos vossos actos. Benefício por duas razões: porque, na verdade, o futuro em grande parte se repete e porque, mais importante, nós, os mais velhos, já lá estivemos, já o experimentámos e já o vivemos. Na maior parte das vezes, nós, (hoje) “cotas”, fomos capazes de aprender – a não repetir os erros, pelo menos – mas fizemo-lo a expensas próprias e, não raro, com elevados custos alguns irrecuperáveis. Seguramente, com os vossos pais terá acontecido o mesmo.
É por isso que muitos «cotas» lamentarão hoje não ter tido ninguém que, quando foi preciso, lhes falasse da vida e os aconselhasse, não ter tido ninguém capaz de lhes proporcionar esse benefício. E é também por isso que lamentam que os jovens de hoje, em geral, não os queiram ouvir. Trata-se, afinal, de um importante património de aprendizagens que se perde, porque não se transmite. Lamentável desperdício. Claro que esta situação só acontece pela cada vez menor importância que os mais velhos, os «cotas», têm na nossa sociedade, na transmissão de saberes, de experiências, de valores, de cultura, enfim, de vida.
Há alguns anos, recebi um mail que falava disso mesmo, da vida, da preparação para a vida (ver caixa), pelo menos foi assim que eu o interpretei. Não sei se as palavras serão mesmo de Bill Gates, o ex-sr. Microsoft, mas isso é o que menos importa. Mesmo assim, palavras daquelas, mesmo que duras, ditas por alguém como ele – um ícone do sucesso - terão sempre, quero crer, muito maior impacto junto de vocês, do que quando ditas por qualquer vulgar «cota», o que é pena. Num momento social tão complicado para todos, sobretudo para vocês, jovens, que se vêem cada vez mais sem horizontes, seria importante recuperar-se o respeito pelos mais velhos, pelos seus conselhos e por aquilo que eles podem ensinar. Porque poderia poupar-vos a muitas decepções e angústias, disso não tenho dúvidas.
Mas, em boa verdade, Gates nada disse de novo, apenas sintetizou e organizou melhor (tal como um computador) aquilo que qualquer um de nós, pai ou professor, vai dizendo ao longo da vida aos seus filhos ou aos seus alunos, por quererem o melhor para eles. Apesar de saberem que poucas são as vezes em que lhes dão ouvidos. No capítulo do desenvolvimento, temos sido ao longo dos séculos um povo perito em esbanjar recursos: fizemo-lo na sequência dos Descobrimentos; fizemo-lo com África, com o Brasil e temos vindo a fazê-lo com a Europa. Talvez fosse tempo de se aproveitar, pelo menos, o riquíssimo recurso que constitui a experiência e a sabedoria dos mais velhos, instruídos ou não. É um recurso que não se esgota porque nasce nos afectos; nasce no amor que um pai sente pelo filho ou na amizade que o professor dedica aos seus alunos. É só estar aberto e, humildemente, aproveitar.
Ah! Porquê a foto de Mourinho? Tinha a certeza que assim vos chamava a atenção para o artigo. Mas não duvido que é um “cota” que vocês não hesitariam em ouvir.
Obrigado pela paciência de lerem esta carta até ao fim e, já agora, gastem mais um pouquinho de tempo para saber o que Bill Gates pensa sobre «aquilo que não se aprende na escola».
Abraço a todos. Com muita amizade
Luís Filipe Cálix, professor de Educação Física
A «conferência» de Bill GatesConvidado para discursar numa escola secundária, Bill Gates falou do modo como a "política educativa de vida fácil para as crianças" tem criado uma geração que não tem a noção da realidade e como esta política tem levado as pessoas a falharem nas suas vidas profissionais, depois de saírem da escola. Foi muito conciso: todos esperavam que ele fosse fazer um discurso de uma hora ou mais, mas Bill Gates levou menos de cinco minutos para dizer o que queria; conta-se que foi aplaudido durante mais de 10 minutos. Onze regras que os estudantes não aprendem na escola
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